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Carta "Cantus modernus" | Congregação para os Leigos

DOM HERY CARDOSO, OFM
A SERVIÇO DE DEUS, DA SÉ APOSTÓLICA E DA ORDEM DOS FRADES MENORES
BISPO DE ARBANO E AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA OS LEIGOS


CARTA-PASTORAL  CANTUS MODERNUS


INTRODUÇÃO

Trina sobre a Igreja contemporânea o soar dos CANTOS MODERNOS que impulsionam as mais diversas "necessidades do rebanho" [1] da Mãe Igreja. O Espírito Santo, "canto sempre novo da Igreja, que tudo rejuvenesce, tudo toca" [2] é a força motivadora de toda transformação e a sua matriz. É Ele o canto moderno, o Divino Ruah, "tão antigo e tão novo" [3], invocado por Moisés, por Maria e Jesus, por Pedro e todos os povos reunidos em comunidade.

Por muitas vezes este canto tão antigo e tão novo é abafado por gritos clericalistas e laicistas, que buscam de todas as formas, impedir o "retorno para nossa essência evangelizadora de proclamar e levar o evangelho aos irmãos e irmãs" [4], e ainda mais, perscrutam contrariamente contra a verdade revelada pela I Assembleia dos Leigos de abril de 2020, que reafirmou a compreensão dos fiéis leigos como "extensão do serviço presbiteral" [5]. Essas atitudes mais do que nunca, reforçam um dos principais desafios ainda presentes em nossa realidade; "inserir os leigos em nosso apostolado virtual" [6].

CAPÍTULO I
O CANTO DE MOISÉS, MIRIAN E ARÃO
"É Deus que nos garante, a gente faz" R.V.

1. O tempo da libertação faz-nos Povo de Deus. Temos em nossa memória a travessia pelo deserto, quando saímos do Egito, guiados por Moisés, Mirian e Arão. Recordamos, portanto, a nossa caminhada de libertação, amparados pelo Senhor (Ex 16,35). Desta forma, vale ressaltar que Deus nos garante, contudo somos nós quem protagonizamos a obra dele no meio da sociedade, sobretudo enquanto participantes do "múnus sacerdotal, profético e real de Cristo" [7]. É uma oportunidade única de experimentar as graças do Reino na vida, realizando o sonho da Igreja de que os leigos possam gozar de sua vocação própria de "procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus" [8].

2. Libertos do Egito passado, enfrentamos ainda diversos egitos que contrapõem o projeto de Deus. Um desses egitos atuais é o grande mal do clericalismo e do laicismo, "que não é só dos clerigos, [mas] é um comportamento que diz respeito a todos: o clericalismo [e o laicismo] é [são] uma perversão da Igreja" [9]. É missão da Igreja "conter o tenaz efeito da clericalização" [10], que por diversas vezes é difundida por meio da "formação de bons seminaristas, para formar bons padres que formem bons seminaristas" [11], sempre girando neste círculo excludente, que novamente traí ao projeto divino de libertação. Mais do que nunca, a comunidade habbiana precisa "trazer à tona uma vocação que ainda não tenha florescido com as Sagradas Escrituras" [12], e voltar a cantar o canto de Moisés, Mirian e Arão, o canto da libertação, tendo em vista que "uma Igreja sem os fiéis leigos, é uma Igreja que não cumpre sua missão evangelizadora" [13].

CAPÍTULO II
O CANTO DE MARIA
"Quanta sede, quanta espera, quando chega aquele dia" R.V.

3. Maria experimenta a libertação em sua carne. Trazendo no ventre o libertador, é feita morada do Altíssimo. Por vários séculos perdurou a lei dos Santos Padres de que tudo que designamos a Igreja deve-se também a Maria, e o verso. Portanto, a Igreja também experimenta a libertação, traz à humanidade o libertador e é morada de Deus [14]. A Igreja é a comunidade reunida (Mt 18,20) em torno do altar do Cordeiro, para beber do manancial da salvação (Is 12) e proclamar felizes; os pobres em espírito, os mansos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que sofrem perseguição (Mt 5,3-11).

4. Essa proclamação acontece em sua plenitude no canto da pequena alma que glorifica ao Senhor e se alegra nele, porque olhando para a pequenez dos seus servos, proclama felizes os menores. Pelo poderoso que faz maravilhas nos pequenos elevados, que derruba os poderosos dos tronos, despede os ricos de mãos vazias e acolhe os pobres. E que, sobretudo, lembra da misericórdia prometida a Abraão e a à sua descendência para sempre (Lc 1,46-56). Mas não é possível fazer esta proclamação sem antes "trabalhar com empatia e caridade para o próximo, na forma de acolher, formar, evangelizar" [15]. O grande convite de Maria para a exaltação do nome de Deus, que também é feita por Jesus na oração do Pai-nosso, é a derrubada dos muros que dividem. "Ao invés de sermos chefes de hierarquia, sejamos mães que acolhe e ensina com paciência, apresenta a vida e convida a uma nova chance" [16] seguindo o exemplo da Mãe e Mestra, a Virgem Maria, espelho e modelo da Igreja, rainha e estrela da evangelização.

5. O grande magnificat é o mais longo texto bíblico colocado na boca de Maria. Entretanto, ela não fala de si mesma, mas fala de Deus e do seu divino projeto, o projeto do Reino semeado no meio dos humildes. Contudo, o projeto do Reino não é feito sozinho, mas feito como Maria ensina-nos; em comunidade. É preciso "trabalhar colegiados pelo bem comum da Igreja" [17]. A comunidade reunida, leigos e ministros ordenados, é "templo santo da graça providencial" [18], assim sendo, "participam de um só sacerdócio, o sacerdócio régio" [19], portanto, não encontra-se nexo para uma divisão tão gritante como experimentamos algumas vezes em nossas corpo eclesial.

CAPÍTULO III
O CANTO DE JESUS
"Sem ele a massa não cresce, fermento sem massa se perde" R.V.

6. Moisés, Mirian, Arão e Maria não se desprenderam da Videira Verdadeira (Jo 15,1-7), desta forma não perderam o sabor e nem deixaram a massa se perder, porque não lhes faltou o fermento da palavra de Deus, que não só é feita verbo, mas pão entregue pela comunidade (Lc 22,19). Contudo, estas personagens receberam dons para bem designarem o projeto do Reino. Mesmo que às vezes lhes fora retirado o espaço de fala, Deus os afirmou em sua jornada. De igual maneira, esta sagrada congregação, em consonâncias com as nossas discussões na I Assembleia dos Leigos, afirmamos também, que é "de suma importância incumbir os leigos e as leigas em grandes responsabilidades" [20] acolhendo "o espírito juvenil nos novos ares que sopram na Igreja" [21]. 

7. É preciso, sobretudo, cantar que "em Jesus, Deus se fez processo, evolução, história" [22]. Não há como negar que o processo de reorganização social, econômica e espiritual iniciado por Jesus ainda tem grande impacto na sociedade atual. A Igreja tornou-se a grande estrela da sociedade, auxiliando e cuidado com caridade dos menores, por meio dos menores. "Jesus incluiu em seu grupo aqueles que não tinham valor na sociedade" [23], desta maneira, mostrou que todos tem o seu valor, que Deus não faz acepção de pessoas (At 10,34), como proclamado pela Igreja no discurso do primeiro papa. Sobretudo nestes tempos, em que é preciso novos Pedros, Paulos, incluídos nas realidades do mundo, mas, a Igreja, formada por tantos, sobretudo pelos Sucessores dos Apóstolos, deve "procurar meios para difundir a boa nova do Evangelho do Senhor (At 18) [24], atendendo aos apelos dos novos tempos, do canto moderno que é entoado na boca dos cristãos e cristãs, sobretudo daqueles que por diversas vezes foram silenciados (cf. INTRODUÇÃO, p. 2º) e/ou abafados.

Amparados no ensinamento de Jesus, esta congregação convida a todos a retornarem ao mesmo espírito que impulsionou o nosso antecessor nesta cadeira, que compreendeu os leigos como "fiéis e missionários do Senhor em meio ao cotidiano" [25]. Isso deve nos impelir a dar espaço para que eles exerçam o "sacerdócio régio que pelo batismo lhes fora confiado" [26] e confiando-lhes também a missão essencial da Igreja Habbiana de levar o Evangelho (Mc 16,15).

CONCLUSÃO

Esta carta tem como objetivo traçar um linear para as discussões que a seguirão, em preparação à II Assembleia dos Leigos, concedendo-lhes espaço privilegiado em nossas deliberações. Também, em conjunto com a Conferência Episcopal Brasileira, damos-lhe base para os debates da Assembleia Geral dos Bispos Brasileiros que tangenciarão esta temática. Mas, não limitamos o alvo desta circular-pastoral somente a isto, mas também de elucidar os debates feitos pelos nossos antecessores nesta congregação e na guia da vida laical na Igreja Habbiana em nome do Santo Padre [27], sobretudo aqueles que fizeram parte do X Sínodo dos Bispos, da I Assembleia dos Leigos e dos movimentos que antecederam o Concílio de Jerusalém.

Convidamos a todos para entoarem os cantos modernos que brotam dos profetas, profetisas, santos e santas dos nossos tempos. Tendo em vista que a Mãe Igreja "vive os mais diversos tempos" [28], apresentamos aqui apenas um prelúdio para a grande partitura que será elaborada por todos os leigos e leigas, ministros ordenados e consagradas (os) religiosas (os), composta por notas acessíveis aos menores da sociedade, compassos que rimam com as Sagradas Escrituras, armaduras de claves que dialogam com os arranjos libertadores dos novos tons que se fazem ouvir na Igreja e que entoam os mais modernos cantos.

Dado e passado em Roma, na Casa Santa Marta, na reunião de Sua Santidade, o Papa Inocêncio VI, com os Bispos, no vigésimo terceiro dia do mês de setembro do ano jubilar de dois mil e vinte e um, memória de Frei Francisco Forgione, OFMCap., conhecido por São Padre Pio de Pietrelcina.

Em fraternidade, de seu dileto irmão,

Prefeito


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[1] DOM JOSEPH RAVASSI, carta-pastoral "Domini Grecis", Congregação para os Leigos, 24 de Abril de 2020, n. 1.
[2] FREI RANIERO CANTALAMESSA, OFMCap., reflexões sobre o Espírito Santo in Communauté du Chemin Neuf.
[3] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA, oração após a conversão retirada do livro Confissões.
[4] DOM JOSEPH RAVASSI, carta-pastoral "Domini Grecis", Congregação para os Leigos, 24 de Abril de 2020, n. 2.
[5] Idem, n. 4.
[6] DOM JOSEPH RAVASSI, carta de convocação da I Assembleia dos Leigos, 16 de abril de 2020, l. 1.
[7] PAPA PAULO VI, constituição conciliar "Lumen gentium", n. 31.
[8] Idem, n. 31, segundo parágrafo.
[9] PAPA FRANCISCO, discurso aos jovens italianos reunidos no Circo Máximo, 13 de agosto de 2018.
[10] DOM JOSEPH RAVASSI, carta-pastoral "Domini Grecis", Congregação para os Leigos, 24 de Abril de 2020, n. 5.
[11] Idem, n. 4. 
[12] DOM DARLLAN MESSIAS e DOM IDALÉCIO ARAÚJO, carta-pastoral "Quia vocasti me", Congregação para os Leigos e Comissão Episcopal para a Liturgia, 17 de outubro de 2020, p. 6º.
[13] PAPA JOÃO PAULO VI, carta apostólica "Ecclesiam populi", 08 de maio de 2020, p. 2º.
[14] DOM IAGO ALVES, instrução acerca dos Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística, Congregação para os Leigos, 31 de julho de 2020, p. 1º.
[15] DOM JOÃO KEKEISON, carta-pastoral pós-I Assembleia dos Leigos, Congregação para o Clero, 20 de abril de 2020, p. 11º,
[16] Idem, p. 12º.
[17] DOM JORGE SNAIF, carta-pastoral pós-I Assembleia dos Leigos, Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, 19 de abril de 2020, p. 1º.
[18] PAPA JOÃO PAULO VII, exortação apostólica pós-sinodal "Mitte me ad gentes", 06 de agosto de 2020, n. 4.
[19] Idem, n. 5.
[20] DOM JORGE SNAIF, carta-pastoral pós-I Assembleia dos Leigos, Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, 19 de abril de 2020, p. 8º.
[21] DOM JOSEPH RAVASSI, carta-pastoral "Domini Grecis", Congregação para os Leigos, 24 de Abril de 2020, n. 5.
[22] DOM PEDRO CASALDÁLIGA e JOSÉ MARIA VIGIL, espiritualidade da libertação, 1993,  p.116-117.
[23] JON SOBRINO, Jesucristo liberador, 1993, p. 24-25.
[24] DOM JORGE SNAIF, carta-pastoral pós-I Assembleia dos Leigos, Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, 19 de abril de 2020, p. 13º.
[25] DOM JOSEPH RAVASSI, carta-pastoral "Domini Grecis", Congregação para os Leigos, 24 de Abril de 2020, n. 2.
[26] PAPA JOÃO PAULO VII, carta-encíclica "Sacerdotium regium", sobre o sacerdócio comum batismal.
[27] PAPA BENTO V, constituição apostólica "Ostium ovium", sobre a cúria romana no Habbo Hotel, art. 67.
[28] DOM JOSEPH RAVASSI, carta-pastoral "Domini Grecis", Congregação para os Leigos, 24 de Abril de 2020, n. 1.