PREFEITURA DA CONGREGAÇÃO PARA OS LEIGOS
COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL PARA A LITURGIA
Quia vocasti me (Porque me chamaste)
A todos que lerem estas letras apostólicas, a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
E eu ouvi a voz de Javé que dizia: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” E eu respondi: “Eis-me aqui, enviai-me!” [1] Irmãos e irmãs, queridos ministros ordenados e leigos da Santa Igreja, ao nascermos recebemos uma missão, uma vocação e a esta devemos firmemente responder! Vocação que vem de um termo derivado do verbo no latim “vocare” que significa “chamar”. É uma inclinação, uma tendência ou habilidade que leva o indivíduo a exercer uma determinada vocação. Por extensão, vocação é um talento, uma aptidão natural, um pendor, uma capacidade específica dada por Deus para executar algo que vai lhe dar, antes de tudo, prazer. Todo o ser humano tem a sua vocação, porém as maiorias das pessoas se empenham em silenciar a voz da vocação e se recusam a ouvi-la. Neste momento conseguem gerar um grande ruído dentro de si mesmo, ou seja, distraem sua própria atenção a fim de não ouvir a voz de Deus, geralmente é aí que as pessoas trocam uma vida verdadeira e genuína de significado e propósito, por uma vida sem sentido e sem brilho.
Cada pessoa nasce com uma vocação dada por Deus. E é com esse chamado que muitos decidem assumir a sua missão. O que motiva realmente é o chamado de Deus, pois quando Ele escolhe as pessoas, Ele vai bem no fundo. Muitas são as vocações e muitos são os chamados.
No decorrer deste documento vamos tratar da importante vocação laical dentro da liturgia. A Constituição Sacrosanctum Concilium já apontava a ampliação da atuação dos leigos em alguns sacramentais e ministérios: “Providencie-se de modo que alguns sacramentais, pelo menos em circunstâncias especiais e a juízo do Ordinário, possam ser administrados por leigos dotados das qualidades requeridas” [2]. O Catecismo da Igreja Católica, no número 910 aponta assim: “Os leigos podem também sentir-se chamados ou vir a ser chamados para colaborar com os próprios pastores no serviço da comunidade eclesial, para o crescimento e a vida da mesma, exercendo ministérios bem diversificados, segundo a graça e os carismas que o Senhor quiser depositar neles”. A atuação do leigo na comunidade é necessária e importante.
Os leigos, portanto, tem uma importante missão dentro da igreja e da liturgia. Um serviço que exige estudo, reflexão e ação. A celebração da Santa Missa por exemplo, que edifica e busca a santidade depende muito da boa organização desse trabalho, que possui várias funções. O mistério sagrado da Santa Missa é a fonte e o ápice da vida da Igreja e o leigo participa de forma ativa, assistindo a Santa Missa e vivenciando o mistério celebrado. E dentre as funções que ele pode desempenhar colaborando com o sacerdote que preside a celebração, dentro também de nosso orbe habbiano, estão a de leitor, aquele que proclama o salmo, seja ele cantado ou lido, a equipe de canto que pode ser um coral ou um ministério de música, os Ministros extraordinários da Eucaristia e também os coroinhas. Sendo que todos precisam de uma profunda formação, para desempenhar com dignidade as atividades para cada qual foi desempenhado.
Sendo assim, é lamentável que a figura do leigo seja vista como uma simples suplência, que se dá pela falta de ministros ordenados. Bem como é lamentável que se compare a figura do leigo a um sacerdote. É importante haver aí uma temperança para que não se clericalize os leigos, muito menos laicize os clérigos. A introdução de ministros leigos que pudessem auxiliar na ausência de outros ministros ordenados teve como finalidade trazer mais eficácia e dignidade à distribuição da Eucaristia e da Palavra e não fazer a substituição dos clérigos.
“Para estes novos tempos, o melhor caminho é o diálogo para a superação das diferenças” [3]. O Respeito entre Clérigos e Leigos deve ser mútuo, apesar de que sabemos que muitos dos que aparecem na Igreja desconhecem ou são pouco informados de nossa verdadeira missão, por isso é necessário haver sempre um diálogo. Embora muitos entrem na igreja somente para tumultuar, através do diálogo é claramente possível trazer o indivíduo a conversão e trazer à tona uma vocação que ainda não tenha florescido com as Sagradas Escrituras. Exortamos ainda a todos os clérigos que tentem sempre o diálogo antes de expulsar ou calar os leigos, às vezes o mesmo necessita apenas de uma conversa.
Por fim, que saibamos acolher e lidar com os leigos e leigas e que estes se sintam sempre bem-vindos em nossas igrejas. “Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina” [4], pois a paciência deve ser a virtude que todo o clérigo deve ter com o rebanho do Cordeiro que foi Imolado para a Remissão dos Nossos Pecados.
Encerramos rogando as bênçãos do Deus Todo Poderoso sobre cada um de nós, e rogando para que Ele nos auxilie no seguimento da nossa vocação!
Dado em Roma, na Sede desta Congregação, no 17º dia de outubro do ano da graça do Senhor de 2020, sob a coroa do Papa João Paulo VII.
+Darllan Victor D’Médici Cardeal Messias
Prefeito da Congregação para os Leigos
+Idalécio M. Capellari Skol e Araújo
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Padre Karol Wojtyla
Secretário da Congregação Para os Leigos
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Referências:
[1] Livro profético de Isaias 6,8;
[2] Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, 79;
[3] URBANO III, Papa. Carta Encíclica Mirare Tempore Futurum, 2018;
[4] Segunda Epístola a Timóteo 2,15.