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Nota - Redemptor Hominis

 

COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL PARA A LITURGIA

NOTA REDEMPTOR HOMINIS (REDENTOR DO HOMEM) 
(Acerca da importância da cruz na Liturgia) 

“Não danifiqueis a terra nem o mar, nem as árvores, até que tenhamos assinalado os servos de nosso Deus em suas frontes” (Ap 7,3).

 A cruz é o sinal dos cristãos, é o sinal do Deus vivo! Esse sinal, o profeta Ezequiel já anunciava como sendo a cruz. Quando Jerusalém recebeu o devido castigo pela idolatria praticada, esse profeta apregoou que Deus assinalou com a cruz os inocentes para protegê-los. “Percorre a cidade, o centro de Jerusalém, e marca com uma cruz na fronte os que gemem e suspiram devido a tantas abominações que na cidade se cometem” (Ez 9,5). 

Desde que Jesus libertou a humanidade da morte, do pecado e das garras do demônio, a cruz salvífica passou a ser o símbolo da salvação. A cruz passou a ser o símbolo da vitória do bem sobre o mal, da justiça contra a injustiça, da liberdade contra a opressão, do amor contra o egoísmo, porque, no seu lenho, o Cristo pagou à Justiça Divina o preço infinito do resgate de toda a humanidade.

Mais do que nunca, hoje, quando tantos perigos materiais e espirituais ameaçam a igreja, atacada de todos os lados pela imoralidade que campeia entre nós, é FUNDAMENTAL que entronizemos a cruz de Cristo nos nossos templos e locais religiosos, de maneira solene. Dessa cruz, nasceram os sacramentos da Igreja, que nos salvam. Dessa cruz sairá a força de que os sacerdotes precisam para guiar os fiéis na verdadeira fé do Cristo e da Igreja. Olhando a cada momento para o Cristo, tão cruelmente crucificado, flagelado, coroado de espinhos, teremos força para vencer as lutas de cada dia. Diante da cruz de Cristo, o demônio não tem poder, porque “ele foi nela vencido, acorrentado como um cão”, como dizia Santo Agostinho. O exorcista, acima de tudo, empunha o crucifixo. 

A Instrução Geral ao Missal Romano, ao tratar do presbitério e, em especial, sobre o altar e sua ornamentação, pede-se que junto ao altar haja sempre uma cruz (cf. Instrução Geral do Missal Romano, n° 308). Na última edição típica se sugere a presença do crucificado. Nas edições anteriores, fala-se apenas da cruz e isso, talvez se deva ao fato de na tradição cristã haver também variações deste símbolo, como a crux gemmata ou cruz gloriosa que é igualmente símbolo da paixão, morte e ressurreição do Senhor, ainda que não porte consigo a imagem do Cristo morto. Sendo assim o mais importante, no caso, é o fato de a cruz ser proposta como “bem visível” à toda a assembleia, de modo que ela perceba e por esta estética experimente a si mesma como partícipe da oferta do sacrifício pascal de Cristo. 

A cruz próxima ao altar não está ali para configurar-se, ela mesma, “oriente” da celebração. Isso porque no conjunto dos elementos não pode ocupar o lugar reservado ao próprio altar. Quem preside a Eucaristia não está voltado a todo o momento para a cruz quando, em nome da assembleia celebrante, dirige a Deus a súplicas da Igreja. Na verdade, a cruz ajuda a tornar inteligível ao povo reunido o Mistério que a Eucaristia recorda sobre a Mesa do Banquete, o sacrifício de Cristo, de modo que ela seja também interpretada como pedra onde a vida de Jesus é oferecida, altar. Com ela se opera um reforço simbólico na relação entre a Mesa-Altar e a Assembleia celebrante, mas não se prevê que para ela se deva dirigir a atenção de todos preponderantemente. Evidente, no entanto, que não se exclui, em alguns momentos rituais, a possibilidade de a assembleia voltar-se de modo explícito para a cruz. Mas não é ela a dominar a cena, mas sim o altar. 

A cruz nos dá conforto, segurança, proteção, força, companhia – ela é companheira de vida. Quando falamos em “força da cruz” falamos dAquele que padeceu a morte na cruz, por amor a nós, em Sua obediência ao Pai; é Aquele que se entregou por nós e que ressuscitou dos mortos, vencendo a morte, matando a morte, na Sua morte. Cruz é, ainda, a vida entregue de Cristo. É o símbolo do próprio Cristo, “que se humilhou por nós, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). É, por isso, toda a vida de Jesus Cristo, vida entregue, vida ressuscitada e exaltada pelo Pai (Fl 2,9). Aquele que morreu na cruz destruiu a nossa morte e, ressurgindo, restaurou a nossa vida (SC 5). Ela é o patíbulo donde pendeu a salvação do mundo. É mistério, é o jeito de Deus ser, é a força de Deus, que aos nossos olhos é fraqueza (2Cor 12,10). 

“Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E tornou-se a fonte de salvação eterna para todos que lhe obedecem” (Hb 5,8-9). Então, a cruz é força na nossa vida, se e quando você obedece ao Filho de Deus. Que possamos vivendo no seguimento do Senhor Jesus, fazendo o que Ele diz, buscando ser como Ele, trazendo dentro os Seus sentimentos e pensamentos, escolher a cruz como força e companheira de vida, escolher deixar que a cruz de Cristo seja o centro e salvação. Ela não é algo mágico. É a vida doada de Cristo – em perfeita obediência ao Pai –, que pede para fazer a mesma coisa (Lc 22, 42). 

Sem mais, encerro frisando “Na cruz, a salvação e a vida!”. Porquanto, chegamos à salvação por intermédio da cruz de Jesus. Cruz de Cristo, sinal do amor do Senhor pela humanidade. É a força de Deus. Ela indica o sentido da vida, a esperança do viver, um viver que não para na morte, mas, como Cristo, passa da morte à vida. É a proposta de vida de Jesus: dar a vida, entregar a vida, viver, no amor do Pai, em favor dos outros. A “cruz entrega no amor, morte, ressurreição” é a fonte da vida. 

Que o Cristo crucificado derrame suas bênçãos sobre cada um de nós, para que seja um exemplo de humildade e símbolo da nossa salvação. 

Dado na Diocese de Monsenhor Tabosa, junto à Nossa Senhora Auxiliadora dos cristãos, no dia 26 de setembro de 2020, sob a coroa de João Paulo VII. 

+Idalécio Maria Capellari Skol e Araújo
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia