DOM DANIEL PAULO CARDEAL STRAMANTINO
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
BISPO TITULAR DE PALESTRINA E
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E
DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS
A todos aqueles que este diretório alcançar, de modo especial,
a todos os irmãos bispos, presbíteros, diáconos e
leigos e leigas das pastorais litúrgicas,
saudação no Senhor Jesus.
1. A celebração anual da Páscoa do Senhor é o cume de todo o Ano Litúrgico e se encaixa dentro do Ciclo Pascal. O Ciclo Pascal se inicia na Quaresma, passando pela Semana Santa, o Sagrado Tríduo do Senhor Crucificado, Morto e Ressuscitado e o Tempo Pascal, encerrando-se com a Solenidade de Pentecostes. Todo este ciclo quer nos recordar do crucial momento da história da humanidade onde Cristo Jesus quis realizar a vontade do Pai e levar a plenitude a obra começada em sua pregação.
O TEMPO DAS CELEBRAÇÕES
2. O primeiro momento deste Ciclo Pascal é o tempo da Quaresma que se iniciará na próxima Quarta-Feira de Cinzas, 26 de fevereiro. A Quaresma compreende 44 dias, desde o começo da Quarta-Feira de Cinzas até a tarde da Quinta-Feira Santa - pois quando cair a tarde daquela quinta-feira se iniciará o dia da Paixão do Senhor, com a Missa na Ceia do Senhor, abrindo o tríduo Pascal.
3. A Quaresma se divide em dois períodos: o primeiro trata sobre o tema da conversão propriamente dito e se estende das Cinzas até o IV Domingo da Quaresma. A partir do V Domingo se inicia a segunda parte, onde vamos ver os acontecimentos que levaram Jesus a morte, a fim de os refletirmos.
A QUARTA-FEIRA DE CINZAS
4. Este ano em 26 de fevereiro celebramos a Quarta-Feira de Cinzas. Este é um dia de jejum e abstinência obrigatórios. Na missa, conforme rito já publicado, os fiéis recebem as cinzas. As cinzas também podem ser distribuídas fora da missa, em celebração da Palavra.
5. Somente os sacerdotes abençoam as cinzas, mas elas podem ser impostas por qualquer ministro.
6. Neste dia não é lícito a nenhum bispo usar mitra com detalhes. A mitra deve ser totalmente branca, sem detalhes. Os cardeais podem usar a mitra simples dos cardeais - também completamente branca. O Santo Padre usa a mitra branca com detalhe dourado ou prateado. Não se usa mitra bege, roxa, dourada, ou com qualquer detalhe, unicamente branca. Nos outros dias da quaresma usa-se a mitra como de costume. Neste dia, ainda, os bispos podem usar, normalmente, cruz peitoral, anél e báculo, bem como o pálio aos arcebispos.
ORNAMENTAÇÃO DO ESPAÇO CELEBRATIVO
7. No Tempo da Quaresma é proibido ornamentar com flores o altar. Excetuam-se, porém o domingo Laetare (IV da Quaresma), solenidades e festas (Instrução Geral do Missal Romano n.305). Por isso, é terminantemente proibido usar qualquer tipo de flor no templo ou no espaço onde for ocorrer uma celebração. Contudo, se for o IV domingo da Quaresma, dia do padroeiro, Solenidade (19 e 25 de março), Festa, ordenação ou casamento, pode-se ornamentar o altar com poucas flores, de modo discreto. Para tal, não recomendamos flores exóticas. Recordamos que, as igrejas onde, durante a Quaresma, encontrarem-se flores fora dos casos previstos, receberão notificações. Pode-se manter, caso a missa esteja sendo presidida por um bispo, um vaso de flor exótica, próxima a credência ou em outro lugar mais oculto, para uso do báculo.
8. Há antigo costume em alguns lugares de, nestes dias, colocar tapetes mais simples nas igrejas. Embora não obrigatório é louvável.
9. Observa-se no Vaticano o costume de, durante a Quaresma, usar objetos litúrgicos mais simples. Este costume pode ser trazido para a nossa realidade, e é louvável que o seja.
10. Embora a simplicidade, durante qualquer missa da Quaresma pode usar-se incenso ou evangeliário. Usa-se, ainda sobre o altar ou perto dele, duas, quatro ou seis vela, ou ainda sete, se o bispo diocesano presidir. Não é lícito celebrar a Eucaristia sem os requisitos, entre eles, as velas.
11. Mantém-se, ainda, as imagens do Senhor Crucificado ou de seu Sagrado Coração ou a cruz, como de costume e necessário para a Eucaristia.
"VELATIO"
12. A rubrica contida após a missa do Sábado da IV Semana da Quaresma diz: "Pode-se conservar o costume de cobrir as cruzes e as imagens da igreja, a juízo das Conferências Episcopais. As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão, na Sexta-Feira Santa. As imagens até o início da Vigília Pascal". Isto quer dizer que, apesar dos costumes, é errado velar as imagens no início da Quaresma.
13. As imagens e cruzes podem ser veladas, com tecido roxo, no sábado que antecede o V Domingo da Quaresma - este ano 28 de março. Não é lícito velar as imagens antes, nem mesmo no rito extraordinário, onde este ato é obrigatório.
14. As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão. As imagens permanecerão veladas até antes da Vigília Pascal.
15. Para as igrejas onde celebra-se o rito extraordinário, o Missal Romano apresenta nas rubricas do sábado antes do I Domingo da Paixão a seguinte rubrica: “Antes das Vésperas, cobrem-se as Cruzes e Imagens que haja na igreja. As Cruzes permanecem cobertas até ao fim da adoração da Cruz, na Sexta-Feira Santa, e as Imagens até ao Hino dos Anjos (Glória a Deus nas Alturas) no Sábado Santo”
O ALELUIA
16. Em todas as missas e ofícios (onde se encontrar), omite-se o Aleluia (Diretório Litúrgico da CNBB).
17. Na Quaresma, em vez do Aleluia canta-se o versículo antes do Evangelho que vem no Lecionário. Também se pode cantar outro salmo ou tracto, como se indica no Gradual” (Instrução Geral do Missal Romano, n.62).
18. Como descrito nos dois pontos anteriores, é proibido o uso da aclamação "Aleluia" em qualquer momento durante as missas e ofícios na Quaresma. O Aleluia só aparecerá na Aclamação ao Evangelho da Vigília Pascal e se manterá em toda a Liturgia por todo o Tempo Pascal. Agora, na Quaresma, ele deve sumir completamente.
A PIEDADE POPULAR
19. Sobretudo no tempo da Quaresma é muito recomendável que se conserve ou incremente, ao menos nas maiores cidades e de modo mais conveniente aos lugares, a tradicional forma de reunião das igrejas locais, como nas “estações” romanas. Assim, principalmente sob a presidência do Pastor da diocese, a assembleia dos fieis poderia reunir-se, aos domingos ou nos dias mais oportunos da semana, junto aos túmulos dos santos, ou nas principais igrejas ou santuários da cidade, ou também nos lugares de peregrinação mais frequentados na diocese. (Rubrica presente no Missal Romano, no dia anterior a Quarta-Feira de Cinzas).
20. As estações romanas se realizavam com a comunidade cristã reunida, junto ao túmulo dos mártires sob a presidência do Sumo Pontífice e nas demais dioceses com seu respectivo bispo. A celebração se iniciava em um local donde se faz a reunião, esse local é uma igreja vizinha à igreja estacional. Desse local se parte processionalmente, segundo o Liber Pontificalis, sempre cantando a ladainha de todos os santos. Chegando a igreja estacional, realizava-se uma vigília de oração. Essa celebração foi sucessivamente dando lugar à celebração eucarística. Um exemplo de estação é a realizada pelo Santo Padre na Quarta-Feira de Cinzas. Ela pode ser realizada também de outros modos.
21. Estimule-se ainda a Via-Sacra, a Adoração, a recita do Terço (meditando os mistérios dolorosos), o terço da misericórdia, e ainda outras procissões e celebrações da piedade popular durante a Quaresma.
CONCLUSÃO
22. Que toda a Igreja contemplando o seu Esposo que passa pelo deserto possam compreender também os seu deserto, seus sofrimentos e confiar no Cristo Jesus que, passando e vencendo as tentações, sofrimentos, a cruz e a morte, nos possibilitou também vencer todas as coisas. Que nosso povo seja estimulado, junto de nós, ministros da Igreja, a uma verdadeira conversão do coração e, amparados pela Mãe das Dores, sigamos Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Dado e passado em Roma, na sede da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, dia 21 de fevereiro de 2020.
+ Dom Daniel Paulo Cardeal Stramantino
Prefeito