CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
INSTRUÇÃO ACERCA DA BEM AVENTURADA VIRGEM MARIA NO MISTÉRIO DE CRISTO E DA IGREJA.
1.Depois de Sua Santidade, o Papa Pio VI, nos ter nomeado a esta Sacra Congregação Romana, aprouve a nós por bem falar ao Povo de Deus, instruindo-o acerca de verdades de sua fé e doutrina, para ajudá-lo a bem viver o que assumiu no batismo, porém, sempre tendo saber que não queremos ser substituidores de consciência, mas, instigantes de seu funcionamento.
2.Frente a isso, esta Congregação viu a necessidade de dar uma pequena palavrinha acerca de uma pessoa tão importante no mistério de Cristo, que é a Bem Aventurada Virgem Maria, neste mês que a piedade popular a ela consagra e que, na liturgia, meditamos os mistérios de seu Bendito Filho Ressuscitado, no desejo de ressuscitar á Igreja, da qual ela é aurora e esplendor.
3.Assim, esta instrução se escreve, no desejo de que, ao celebrar os mistérios do Ressuscitado unidos á sua Santa Mãe, saibamos dar razões bíblicas e teológicas do nosso amor a esta que tão carinhosamente chamamos de Nossa Senhora!
4.Tudo aqui inscrito está com base no capítulo VIII da Constituição Apostólica Lumen Gentium e da Exortação Apostólica Marialis Cultus, ambos documentos conciliares, que bebem da mais genuína tradição da Igreja acerca de Maria.
Capítulo I-Maria na economia da salvação.
"Tu lhe ferirás a cabeça e esta te ferirá o calcanhar"
5.Nos livros do Antigo Testamento, vemos a história do povo que Deus escolheu e cuidou como mãe, mas, que diversas vezes recusou sua aliança indissolúvel.Lemos essa história de pessoas e fatos concretos a partir da revelção ulterior, epifania plena de Deus que é o Cristo. Tendo em vista tal leitura, já vimos nas linhas do mesmo apontamentos da Mãe do Redentor.
6. Desde o começo, é uma promessa de Deus a vitória sobre todas as opressões, tudo aquilo que impede o povo de ser plenamente de Deus, simbolizado pela serpente usada no culto dos cananeus. Esta vitória virá por meio da descendência da mulher.
7. Continuando as páginas, vemos as "redentoras" do povo, mulheres afrente de seu tempo, que lutam pela libertação, pela vida digna do seu povo, tais como Ester, Rute, Judite, Míriam e tantas outras.
8. Os profetas se referindo á libertação do povo no exílio, falam do filho do Rei que vai nascer de uma mulher pura, virgem. Nós cristãos, já bem lemos como uma total alusão ao Bendito Filho de Maria, que vem nos libertar de todo o nosso exílio, como tão bem rezamos na Salve Rainha.
9. Com ela, prenunciada por tantas mulheres fiéis a Javé, os tempos se cumprem, a plenitude dos tempos chega, e o Bendito Filho nasce, anunciando que não somos mais escravos, mas filhos que clamam no Filho: Abba, Pai!
10. Assim, o Pai, para cumprir tudo o que a ela apontara e firme na liberdade das suas criaturas, quis a aceitação de Maria para a encarnação de seu Bendito Filho, de modo que, como Eva disse sim á morte, Maria diz sim á vida, abrindo-se totalmente ao plano da salvação. Além do mais, ela já estava preparada desde a sua concepção, levando em conta sua preservação de todo em qualquer pecado em virtude de Jesus, por isso chamada de "Toda Santa".
11.Esta associação da mãe com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até à Sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar Isabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da fé com que acreditara na salvação prometida, e o precursor exultou no seio de sua mãe ;depois, no nascimento, quando a Mãe de Deus, cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filho primogénito, o qual não só não lesou a sua integridade, mas antes a consagrou. E quando O apresentou no templo ao Senhor, com a oferta dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filho viria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos. Ao Menino Jesus, perdido e buscado com aflição, encontraram-n'O os pais no templo, ocupado nas coisas de Seu Pai; e não compreenderam o que lhes disse. Mas sua mãe conservava todas estas coisas no coração e nelas meditava.
12. Durante toda a vida pública de Jesus, sua Mãe esteve unida, sendo aquela que se destaca na primazia do discipulado. Desde o início dos sinais nas Bodas de Caná, passando pelas pregações, até ao pé da cruz, ali esteve Maria. Isso se confirma mais ainda no grande dizer de Santo Agostinho: "A grande dignidade de Maria está no seu discipulado".
13. Depois da ressurreição de Jesus, Maria continuou na comunidade primitiva, estando na manifestação da Igreja em Pentecostes. No fim de sua vida, morreu e entrou na eternidade de Deus, ressuscitando em virtude dos méritos de seu bendito Filho, onde com ele vive no Reino da Glória.
Capítulo II-Maria e a Igreja
"Aurora e esplendor da Igreja triunfante"
14. Nosso único mediador é o Cristo. Dentro dessa mediação, entra a função maternal de Maria sobre todas pessoas. Tal função depende da mediação e existe em função dela, favorecendo-a. Todos(as) somos(as) filhos(as) de Maria e, reconhecendo isso, buscamos nos unir cada vez mais a Jesus.
15. Essa maternidade de Maria perdura até a consumação de todos(as) eleitos(as). Mesmo depois de sua ressurreição, continua a interceder e cuidar de cada um(a) de nós, por isso chamada de advogada, auxiliadora e socorro dos fiéis. Mas, todo e qualquer título ou carinho dado a Maria, não deve obscurecer a majestade e a primazia de seu bendito Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem ela colaborou no projeto da redenção.
16.Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava S. Ambrósio. Com efeito, no mistério da Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de mãe. Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos(ãs), isto é, dos fiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe.
17.Por sua vez, a Igreja que contempla a sua santidade misteriosa e imita a sua caridade, cumprindo fielmente a vontade do Pai, toma-se também, ela própria, mãe, pela fiel recepção da palavra de Deus: efectivamente, pela pregação e pelo Batismo, gera, para vida nova e imortal, os filhos(as) concebidos(as) por ação do Espírito Santo e nascidos de Deus. E também ela é virgem, pois guarda fidelidade total e pura ao seu Esposo e conserva virginalmente, à imitação da Mãe do seu Senhor e por virtude do Espírito Santo, uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma verdadeira caridade.
18.Mas, ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria , os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos. A Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação, e mais e mais se conforma com o seu Esposo. Pois Maria, que entrou intimamente na história da salvação, e, por assim dizer, reune em si e reflecte os imperativos mais altos da nossa fé, ao ser exaltada e venerada, atrai os fiéis ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai. Por sua parte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais semelhante àquela que é seu tipo e sublime figura, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo em tudo a vontade divina. Daqui vem igualmente que, na sua acção apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que gerou a Cristo, o qual foi concebido por acção do Espírito Santo e nasceu da Virgem precisamente para nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. E, na sua vida, deu a Virgem exemplo daquele afecto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar as pessoas.
Capítulo III-Maria, sinal de segura esperança para o Povo de Deus peregrinante
"Também sou teu povo, Senhor, e estou nessa andança, Santa Mãe Maria é minha esperança"
19.Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor.
20. Por fim, ordenamos que todos(as) os(as) fiéis dirijam orações e súplicas a Deus rendendo graças por Maria, no desejo de seguir seu exemplo, para que nos tornemos ressuscitados e ressuscitadas no seu Bendito Filho, o Nosso Senhor!
Dado em Roma, na Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, aos 8 de maio do Ano Mariano das Aparições de 2017.
+Vinicius Card. Alves
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé