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Nota acerca do "Jesus 'Che' Guevara" compartilhado nas redes sociais

DOM DANIEL PAULO CARDEAL STRAMANTINO
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
BISPO DE FRASCATI E
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

Tendo em vista a publicação de uma imagem que caracterizava Jesus Cristo de modo semelhante ao revolucionário "Che" Guevara, por parte do Pe. Newton Ribeiro, do clero da Arquidiocese de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, aprouve esta Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé realizar a exposição da posição da Igreja diante tal ato e o que ele representa.

Ernesto Rafael Guevara de la Serna, conhecido como "Che" Guevara, era médico, guerrilheiro, diplomata e revolucionário marxista, figura da esquerda que participou da revolução cubana. Sobre essa revolução, Ernesto, questionado sobre a ideologia cubana no Primeiro Congresso Latino-Americano, disse: "Se me perguntassem se nossa revolução é comunista, eu a definiria como marxista. Nossa revolução descobriu por seus métodos os caminhos que Marx apontou". Segundo ele, os "revolucionários práticos" da Revolução Cubana tinham como meta "simplesmente cumprir as leis previstas por Marx, o cientista".

A condenação do comunismo e da ideologia marxista pela Igreja, apareceu em 1846 com Pio IX. Mas, o próprio Leão XIII, o papa da "Rerum Novarum", também condenou o comunismo. Esta condenação também  se expressa por meio da da Divinis Redemptoris do Santo Padre Pio XI, de 1937. Nesta, Pio XI recorda como o comunismo torna o homem uma simples peça numa engrenagem, sem pessoalidade, numa injusta igualdade e que, acima de tudo, retira Deus do centro. O próprio Karl Marx havia afirmado que a religião é o ópio do povo. Ópio era um remédio para a dor, que servia para amenizar uma situação e que depois voltaria a doer. Deste modo, Deus não seria capaz de solucionar os problemas da humanidade e, por isso, toda religião deveria ser extinta. Além da incapacidade de Deus, a religião serviria como alienadora e seria um poder com os quais os comunistas não estavam dispostos em dividir seu posto. De fato, sabemos como sofreu a Igreja cubana e polaca e hoje sofre a Igreja chinesa sob o comando dos comunistas: falta de comunhão com Roma, recebendo ordens do governos, proibição de missas, ordenações, proibições, do uso do hábito religioso, prisões e mortes dos bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos e leigas.

O Catecismo da Igreja Católica, no n.2425, afirma: "A Igreja rejeitou as ideologias totalitárias e ateias, associadas, nos tempos modernos, ao 'comunismo' ou ao 'socialismo'. Por outro lado, recusou, na prática do 'capitalismo', o individualismo e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano. Regular a economia só pela planificação centralizada perverte a base dos laços sociais: regulá-la só pela lei do mercado é faltar à justiça social, 'porque há numerosas necessidades humanas que não podem ser satisfeitas pelo mercado'. É necessário preconizar uma regulação racional do mercado e das iniciativas económicas, segundo uma justa hierarquia dos valores e tendo em vista o bem comum." Diante dessa realidade, podemos destacar que é tão escandaloso caracterizar Jesus Cristo com uma figura comunista como "Che", como o seria se o caracterizássemos como o "Tio Sam" (símbolo nacional da direita americana) ou outro, seja de direita ou esquerda.

E não nos basta, aqui, trazer criticas ao comunismo que "Che" Guevara representa. O próprio ato de caracterizar Jesus do modo como o foi, é um ato de falta de respeito. Afirma-nos o Catecismo, no n.2146: "O segundo mandamento proíbe o abuso do nome de Deus, isto é, todo o uso inconveniente do nome de Deus, de Jesus Cristo, da Virgem Maria e de todos os santos." Podemos, aqui, estender o "nome" de Deus à "figura" de Deus, já que ambos o representam. Além disso, o mesmo Catecismo afirma mais a frente, no n.2155: "A santidade do nome de Deus exige que não se recorra a ele por questões fúteis".

Em resumo, podemos dizer que a publicação do reverendíssimo Pe. Newton Ribeiro feriu a imagem de Jesus Cristo, comparando-o com um líder político contrário ao próprio Cristo e a Igreja, ofendendo-o e banalizando a santidade de seu nome e sua figura. 

EXORTAMOS o supracitado reverendo a excluir a publicação e retratar-se. EXORTAMOS os demais clérigos que apoiaram a publicação a excluírem seus comentários e, de igual modo, se retratarem. A todos os que se recusarem seguir nossas prescrições, tomem ciência que se dispõem a desligarem-se da comunhão da Igreja.

Além disso, recordamos que esse tipo de situação gera não apenas um desconforto dentro da Igreja, mas, prejudica a causa de Jesus Cristo, do Evangelho e da construção do Reino de Deus. Sabemos que há os que não conseguem ver Jesus Cristo, como totalmente humano e totalmente divino, como figura sobre o qual repousou o Espírito do Senhor para "anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos" (Lc 4, 18). O tipo de atitude como a do Pe. Newton Ribeiro causa repulsa a muitos e também aos que já não trabalham pela construção do Reino neste mundo, não conhecem a Doutrina Social da Igreja, que apenas olham para cima e não conseguem olhar para os outros, e os afasta ainda mais dessa realidade tão importante. Um ato como o do Pe. Newton Ribeiro não só escandaliza, mas, também, afasta os escandalizados da causa do Reino que passarão a ver as críticas sociais, ao sistema, a opressão, meramente como comunismo.

Há uma distinção enorme entre a causa do Reino e o comunismo, a qual o supracitado reverendo se esqueceu. Não só aquela tem Deus enquanto este não o tem. O comunismo é aplicado para uma mudança de sistema social, político e econômico, meramente. A causa do Reino de Deus, por sua vez, é promovida por amor ao outro, como reconhecimento de sua pessoalidade, liberdade e dignidade. Deus é amor, e onde está o amor Deus aí está!

Rogamos sobre o padre Newton Ribeiro e sobre toda a Igreja a vinda do Espírito Santo Paráclito, para que conceda discernimento, sabedoria e todos seus dons, pela intercessão da bem-aventurada Virgem Maria e de São José, seu esposo e de São Thomas Morus, padroeiro dos políticos.

Dado e passado em Roma, na sede desta Congregação, aos nove dias do mês de setembro do ano Jubilar de dois mil e vinte e um.

+ Dom Daniel Paulo Cardeal Stramantino
Prefeito